A gente
que nasce em Minas Gerais não tem jeito: carrega pela vida uma infinidade de
mineirices que sobrevivem ao tempo e às mudanças. Não há novo sotaque ou hábito,
por mais diferentes que sejam, que nos roubem aquele jeito único de falar e de encarar
as coisas do mundo. É um sentimento tão forte, mas tão forte, que nos entrega
em qualquer conversa. Basta abrir a boca pra ouvir: “Você é de Minas, não é?”.
Sim, eu sou de Minas.
Outro
dia, escutei minha prima dizer que não fazia tal bolo porque ele ficava “batumado”
(não crescia). Tipo de fala que só ouço em terras mineiras. Comecei então a
pensar no doce dialeto formado por expressões que cercaram grande parte da
minha vida. Como “cambota”, a cambalhota que eu, criança, virava na grama com
os amigos, ficando de “ponta-cabeça”, o que dispensa explicação. Sem falar que
era o maior “guaiú”, uma bagunça danada. Mas difícil mesmo era desviar dos “mandruvás”,
aquelas lagartas que andam pelas folhas.
Não me
esqueço da vez em que virei para uma colega carioca e pedi pra ela “cochar” bem
o parafuso. Ela parou no mesmo momento, impressionada, e me olhou perguntativa,
querendo saber o que diabos aquilo significava. Estranhei ela não entender algo
tão óbvio. Cochar é apertar, ora essa!
Agora,
o que realmente vou carregar pra sempre comigo é o “quéde”. Minha avó passou seus
dias a me corrigir: “Não é cadê, menina! É quéde.” E pra não contrariá-la, eu
fingia que aceitava a correção, com a certeza absoluta de que ela estava
errada. Só depois de muitos, muitos anos, é que fui descobrir que o “quéde” é uma
espécie de abreviatura de “que é de” que, na verdade, é o mesmo “cadê”. Está
certo. Como todas as mineirices.
Eu
poderia escrever aqui um colosso de expressões que tornam nossas montanhas
ainda mais aconchegantes, mas sei que deixarei muitas de fora. É que infelizmente
estou um pouco destreinada do meu idioma nativo, por ter deixado minha terra já
há algum tempo. Mas me lembro agora do “ara seja”, que seria o famoso “que
pena!”. Também tem o “não orna”, que dizemos quando alguma coisa não combina.
Legal
é que toda vez que ouço “Você é de Minas?”, vejo o ar de satisfação – e até uma
pontinha de inveja – na cara do perguntador. É que não há quem não saiba que
Minas tem tudo de bom. E isso vai muito além da famosa hospitalidade e do pão
de queijo. Tem virado de banana, de ovo, de feijão. Tem volta na praça,
brincadeira na rua, fogão de lenha, café no coador de pano. Comadres que se
ajudam, amizades que duram uma vida inteira. Tem poesia no pasto verdinho, galinha e pé
de couve no quintal. Tem um povo simples, que ainda acredita que a generosidade
pode sim estar presente em cada pequeno gesto. Lá ninguém acha que isso está
fora de moda.
Eu
saí de Minas. Mas, apesar de soar um pouco piegas, posso dizer que Minas nunca sairá
de mim. Só lamento não poder sentir mais vezes o cheirinho do bolinho de polvilho
pulando da panela e não poder perder – ou melhor, ganhar – tardes inteiras proseando
com amigos sobre tudo e sobre nada, na porta de casa. É a vida. Ara seja...
Cíntia Nascimento
Prima querida! Não conhecia seu blog.. Muito legal! Saudades de todos vocês. ������ Bruna
ResponderExcluirObrigada, Bruna! Muitas saudades de você também! Beijo grande.
ExcluirQue texto gostoso de ler, tantas mineirices... é produto nacional uai!
ResponderExcluirObrigada, Ná! Beijos.
ResponderExcluirParabéns pelo texto! Muito legal de ler e construtivo!
ResponderExcluirObrigada, Elias!
ExcluirAmei!!!!!!!
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