Sabe quando a gente ri de turista
que acha que no Brasil animais selvagens caminham pelas ruas? Pois no Rio de
Janeiro isso acontece. Pelo menos no Recreio. Quase caí quando pela primeira
vez vi, no caminho para a praia, uma família de jacarés descansando ao sol, como
se fosse a coisa mais normal do mundo. E isso, no meio da cidade.
Alguém já havia me contado.
Difícil foi acreditar. Mas juro: eles estão lá mesmo. Nem aí para o vai e vem
de gente salgada que passa o dia inteiro pela ponte de madeira alojada sobre o
canal, onde moram os bichos. E para completar o estilo selva de ser, de vez em
quando uma turminha de capivaras se acomoda por perto, numa boa. E ficam todos juntos,
como se colocassem o assunto em dia. Isso sem falar nos macacos, que por muito
pouco não pulam dentro da bolsa da gente. Misturados, mas cada um na sua.
Bonito de se ver.
No início, eu dava voltas para
chegar à praia, me arriscava nas faixas de pedestres, caminhava léguas sob o sol
ardente. Tudo para fugir daquela visão quase amazônica. Depois fui criando
coragem. Mas ainda voava pela ponte feito um corisco, sem olhar pra lado
nenhum. Agora, que nada! Até já são meus amigos, os bichinhos. Sinto falta
quando não estão por perto. Tem filhote, jacaré pequeno, médio e os grandões, de dois
metros de comprimento. Tem para todos os gostos e medos. Dizem que moram por
aqui há séculos. Chegaram primeiro.
Pura verdade é que o sol de fim
de semana não seria o mesmo se o Recreio não tivesse esses tão preciosos
moradores. Dá vontade de pedir licença, cumprimentar.
- Bom dia, amigo jacaré! Estou passando. Não me ataque. Por favor.
Mas, se esse inusitado carioca pudesse
falar minha língua, é certo que não seria de muita conversa. Impossível ter um
bom dia vivendo num lugar poluído, desrespeitado. O papo teria que começar
diferente.
– Me desculpe, amigo jacaré. Por invadir
sua casa, por lhe dar água poluída para beber, por te obrigar a criar seus
filhotes nessa imundice. Mas continue por aqui, amigo jacaré. Por favor.
Cíntia Nascimento
Cíntia, aqui pelas redondezas da Tijuca só vejo gatos e cachorros abandonados. Triste, né? Confesso que fiquei com uma pontinha de inveja de saber que alguns de seus vizinhos são esses belos animais. Sim, porque a meu ver todo animal tem sua beleza...
ResponderExcluirPor favor, preservem esse local aí, cheio de histórias...
Texto lindo, mais uma vez!
bjos da comadre Day
Obrigada, querida Dayse. Bjos.
ExcluirFiquei até com vontade de ir na sua ponte ver toda essa bicharada...
ResponderExcluirbel
Vem pra cá, Bel! Bjos.
ExcluirPonho na janela do meu apartamento banana para os passarinhos comerem. E vem sabiá, sanhaço, bem-te-vi, periquito... De vez em quando aparece um pica-pau. Veja você, um pica-pau comendo banana no centro de São Paulo (moro em Higienópolis). Os bichos estão por aí. Só deixar que eles vivam, eles aparecem...
ExcluirGostei do seu texto. Beijos.
É isso mesmo, professor Gílson. E que bom que esses bichinhos aceitam conviver com a gente, apesar de tudo. Beijos.
ExcluirSalve querida irmã!
ResponderExcluirGostei muito do texto: o final, infelizmente, é a pura realidade. Desrespeitamos nosso planeta e obrigamos nossos animais a viverem em nossos esgotos. Em BH também tem jacaré na Pampulha e o coitado (que não pediu para morar lá pois foi introduzido) tem que conviver com o mau cheiro e a poluição. Para a sorte do nosso jacaré, ano que vem tem Copa do Mundo e ele vai ganhar uma lagoa limpinha.
Beijão.
Que bom que a Copa do Mundo vai servir para isso também (ou pelo menos)! Beijos!
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