sexta-feira, 19 de julho de 2013

Meus sentimentos



       E pensar que tem gente que não gosta de gatos! Eu gosto. Na verdade, adoro. Chego a ser chata, gateira mesmo. Daquelas que têm brinco, colar, pingente, pijama, tudo com aquela carinha cheia de bigodes. E isso vem de sempre. Dos tempos em que eu passava as tardes namorando as famílias felinas que habitavam o quintal da minha avó. 



Era um ir e vir de gatos de todos os tipos, tamanhos e personalidades. Da mesma forma que surgiam, desapareciam sem deixar paradeiro. Coisa gostosa de lembrar é quando uma gata deu cria no porão, tornando minha infância mais mágica. Triste foi que durou pouco. Desapareceu numa noite escura, carregando a ninhada. Só deixou saudades.


Nem sei quantas vezes quis ter um gatinho. Num certo segundo de compadecimento, minha mãe deixou que eu levasse para casa um filhote que tomava chuva. Mas, de manhã, recebi a notícia: “A mamãe do gatinho passou aqui e levou ele embora.” Sei. 


Verdade é que meu dia chegou, há quase oito anos. Foi quando passei pelo pequeno pet shop, que ficava perto do meu apartamento, em Juiz de Fora. Lá estava ela. Pequenina, se contorcendo para bater a patinha no brinquedo amarrado na gaiola. Minutos depois, já se acabava de tanto pular na minha sala. Ligou o som, subiu no vaso de planta. Começou logo a ser a minha Pandora. Legal é que eu estava de mudança para São Paulo e precisei passar aqueles ferventes dias de janeiro com todas as janelas fechadas. Não queria que Pandora mergulhasse sem asas do 10º andar. 


– Com estas gotinhas, ela vai dormir a viagem toda – garantiu a veterinária.


Dormiu nada. Miou e reclamou durante os 90 minutos de voo, enquanto eu recebia os olhares fuzilantes de outros passageiros, pessoas muito infelizes. E para completar a série “As primeiras aventuras de Pandora”, ela estreou na noite paulistana dormindo num hotel, onde entrou escondida, é claro. Meu marido vive dizendo que eu cheguei de gata e cuia. 


E Pandora seguiu sua vidinha dorminhoca, entremeada por muitos arranhões no sofá. Também sempre fazendo jus ao nome, abrindo e explorando caixas, caixinhas e caixotes. Só mudou sua rotina quando viu entrar pela porta um bebê rechonchudo. Achou que era seu filho, só pode ser. Assumiu a maternidade e passou a defender com unhas e garras – literalmente – aquele ser. Comprovou isso quando deixei o bebê com a diarista e saí, pela primeira vez. Na volta, encontrei a moça apavorada, contando que Pandora empacou na porta do quarto e não deixou ela se aproximar do filhote (do meu), ameaçando atacá-la. Uma verdadeira gata de guarda.


Sei que gatos não gostam de mudanças, mas Pandora é diferente. Teve que arrumar mais uma vez as malas e agora ronrona em terras cariocas, sem nenhuma crise existencial. Pelo contrário. Adora deitar à sombra nos dias calorentos e ficar observando a paisagem com cheiro de maresia. E também é meio bruxa, vidente, sensitiva. Quando uma pessoa estranha entra em casa, dá logo seu veredito. Se gostar, enrosca-se nas pernas, atira-se no colo. Se achar que o indivíduo tem alguma coisa errada, some.  É a nossa juíza. Coisas de Pandora.


Não liga se estou descabelada, se naquele dia não quero conversa ou se reclamo da vida. Só quer saber de se aconchegar e mexer as patinhas dianteiras, numa marcha quase infinita, fazendo aquela inigualável massagem e dizendo: “Gosto de você”. Porque Pandora fala. E ainda é generosa. Até deixa a gente morar na mesma casa e dormir na mesma cama que ela!


E pensar que tem gente que não gosta de gatos! Para quem é desse tipo, meus sentimentos.


4 comentários:

  1. Eu fui vítima do veredito de Pandora. Na minha primeira vez no apartamento do casal em São Paulo, Pandora, depois de me ver, pulou no meu colo. Para minha sorte!
    Continuo amando cães. Mas é fato que os gatos são diferentes, COMADRE!!!!

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    1. Viu como Pandora sempre acerta, compadre? Você é nosso amigo querido! Bjos.

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  2. Olá Cintia! Prazer enorme de poder me comunicar com você! Me identifiquei muito com você, veja porque: eu nasci gateira! E mamãe e papai não gostavam e nem queria saber de gatos dentro de casa. Papai ciumento e cuidadoso achava que traziam doença! Qual o que! Minha única irmã não ligava. Mas com 8 anos mais ou menos ouvi meu avô dizer que ia jogar um filhote de sua gata no rio só porque era fêmea e ninguém queria. Ah! fiz um berreiro e ganhei a gatinha que criei com
    mamadeira da minha boneca. Atualmente tenho 4 gatas, todas adotadas. Essa massagem que você disse que ganha, a veterinária me disse que é como se elas
    estivessem amassando pãozinho, e só fazem isso quando estão muito felizes! Gostei demais da sua crônica! Você escreve muito bem e muito gostoso de se ler!
    Obrigada e muito prazer! Um grande abraço!
    Marilda.

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  3. Fico muito feliz por você ter gostado, Marilda! E, mais ainda, por agora você poder curtir seus gatinhos, como eu curto a minha Pandora. Só quem convive com esses bichos sabe o quanto são especiais. Um abraço!
    Cíntia

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