Do que é feita uma família? Pais, mães, filhos, avós, netos, bisnetos, tios, primos... Então as famílias são feitas de pessoas. Mas será que somente as pessoas são suficientes para construir uma família de verdade?
Pensando nisso, comecei a analisar o que geralmente entendemos por família. Aí me lembrei lá do início, de quando, bem pequenininha, eu já vivia cercada de gente que me amava e que cuidava tão bem de mim. Da minha mãe cozinhando o que gostávamos aos domingos, do meu pai cantando à beira da minha cama, do meu vô me deixando brincar com as galinhas e da minha vó Maria me ensinando a ser uma boa pessoa, em cada pequeno gesto dela. Também me lembrei das tias maravilhosas, criando seus filhos, enfrentando a vida com coragem e humildade. Daquelas tardes de virado de banana, bolinho de polvilho, milho assado e de tantas outras delícias que enriquecem as nossas terras mineiras. E ainda dos primos e primas, esses seres tão essenciais nas nossas vidas. Seres que crescem com a gente, brincando, brigando, ensinando, inspirando e deixando uma parte de si em cada um de nós. E para completar, somei o meu irmão e todo o sentimento infinito que a relação entre irmãos é capaz de cultivar. Uma relação extremamente forte, com alguém que conhece todas as nossas dores e alegrias, pois está ao nosso lado enquanto crescemos e descobrimos o quanto o mundo pode ser, ao mesmo tempo, tão lindo e tão injusto.
Depois pensei em quando, já grandes, escolhemos alguém para nos apaixonar, fortalecendo a rede de afetos que nos sustenta. Aí vêm os filhos e nossa vida ganha um sentido até então desconhecido. É como se todo o amor que acumulamos no decorrer da vida inteira tomasse uma só forma. Eles são a nossa extensão, a nossa melhor parte. A certeza de que viemos ao mundo por uma razão.
Então, que coisa incrível seria se pudéssemos, de algum modo, ter todos esses seres, elementos e sentimentos sempre ao nosso lado. Mas isso é impossível. Crescemos e saímos dos nossos quintais. Estudamos, nos casamos, viajamos, trabalhamos e – que pena! – nos distanciamos. Só que quando os laços são bem-amarrados, é verdade que não há nada que os desfaça. Nem o tempo, nem a distância, nem as crenças, nada. E é justamente por isso que quando encontramos aqueles que nos ajudaram, e ainda nos ajudam, a escrever as nossas histórias, o universo parece retroceder. Ele nos leva de volta àquelas tardes de brincadeiras e conversas, quando o que a gente só queria era molhar os pés no riacho com a certeza de que o futuro seria tão brilhante quanto as pedrinhas que estavam lá no fundo.
Assim, volto a perguntar: do que é feita uma família? Somente de pessoas? Não. Ela é feita de muito mais. De cada detalhe que vai nos construindo desde o momento em que surgimos no mundo. Uma família é feita de gestos, de admiração, de carinho, de solidariedade, de compreensão, de torcida pela felicidade do outro. E também é feita de ideias divergentes, de desentendimentos, de distâncias, de ressentimentos e, felizmente, de perdão.
Por isso, acho que a conclusão é bem
simples: uma família é feita de pessoas – que estão aqui, que já partiram e que
ainda virão –, de amor e de tudo o que cabe nessa palavra. E o melhor dessa
conclusão é a certeza de que eu e cada um de nós, de perto ou de longe, juntos
ou separados, temos algo muito valioso em comum: uma família de verdade.
Cíntia Nascimento