Bonecas de
milho cozinhavam mato nas panelinhas de barro, sobre o fogão de tijolo e
gravetos.
As casinhas
de taquara tinham poço de lata de cera.
As vaquinhas
de chuchu pastavam, faceiras, ao lado de besouros e minhocas.
As galinhas
ciscavam receios naquelas manhãs geladas de julho.
Do tanque, vinham
o acalanto da torneira e o batuque da roupa na pedra.
Gatinhos
brotavam de noite e eternizavam nossas manhãs.
Eu colhia a
hortelã crescida ao lado da cerca e livrara as cebolinhas do picão.
Só tinha
medo do pé de figo. Mais do que dos espinhos do limoeiro.
A escada de
cimento protegia meus segredos de menina.
No porão, a balança antiga, o chão de limo verde, as penas pairando e os passos de
botina.
Tantos tropeços
nas colunas caídas, restos do que um dia também tinha sido casa.
Banana frita com farinha, nos lanches das
tardes recortadas por tios e primos.
Histórias germinavam
junto ao formigueiro.
– Não passa
do portão, menina!
Nunca. O
mundo já estava todo ali.
Cíntia Nascimento
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