Parece que a lembrança de algumas
histórias sobrevive ao tempo com o único objetivo de não nos afastar de quem
realmente somos e fomos. Entre tantas, gosto de evocar uma que comprova que um
dia fui uma destemida inocente. O roteiro conta com a cumplicidade de três
amigas muito queridas, companheiras de um percurso pavimentado de peripécias.
Foi quando, lá pelo início dos anos 1990, em Minas, cismamos que entraríamos de
graça no show do cantor Fagner e, para isso, elaboramos um plano no mínimo
imperfeito.
Munidas de câmera fotográfica sem filme, de
gravador sem pilha e de muita cara de pau, desembarcamos na entrada do ginásio
onde aconteceria o almejado espetáculo. Sem qualquer sinal de timidez,
informamos que éramos estudantes e que queríamos entrevistar o cantor para um
trabalho da faculdade. Óbvio que o segurança, do alto de sua notável
carioquice, desconfiou daquelas quatro mineirinhas, todas muito bem
arrumadinhas, que chegaram sem aviso algum. Não sei se foi por maldade ou por
piedade mesmo, mas o fato é que o homem pediu que a gente esperasse enquanto
ele iria falar com o astro da noite. Até parece! Ficamos ali paradas, enquanto
uma fila de conhecidos nos olhava sem entender nada. Mas de uma coisa tínhamos
certeza absoluta: o Fagner iria nos receber de braços abertos. Sem qualquer
dúvida.
Depois
de muito tempo, muita conversa e muita enrolação, o segurança nos avisou que,
infelizmente, o cantor não poderia nos receber naquela ocasião:
–
Mas, qualquer coisa, no mês que vem estaremos no Canecão! – disse o homem para
as desoladas fãs, que concordaram e agradeceram com a maior educação.
“Nem
Canecão, nem canequinha!” Assim uma das amigas muito bem resumiu nossa
tentativa frustrada. O plano foi um fiasco, porém aquela noite terminou em
muitas risadas embaladas pelo orgulho de termos tentado.
A verdade é que cada uma de nós seguiu seu caminho.
E, ainda hoje, nas felizes ocasiões em que podemos estar juntas, nos lembramos
com saudades daquelas quatro corajosas garotas, que acreditavam poder
conquistar o mundo, com ou sem ingresso. Não vimos o show, muito menos
entrevistamos o Fagner. Mas aquele sentimento de que tudo poderia dar certo nas
nossas vidas ainda é a atração principal de todas as nossas histórias.
Cíntia
Nascimento