Meus
amigos me perguntam se eu não tenho medo de morar no Rio. Dá pra entender: é só
somar a quantidade de tiros e outros danos que saltam diariamente do
noticiário. Pensam que aqui as pessoas vivem em trincheiras. Mas, acalmem-se, queridos
amigos! Felizmente, nesta terra existem locais onde os dias são tranquilos e até
poeticamente selvagens. Onde ainda é possível dizer que, apesar de tudo, o Rio continua lindo.
Já falei
dos jacarés do Recreio, que lagarteiam na beira do canal, como se isso fosse
a coisa mais normal do mundo. O que dizer então de cachorro, gato e outros seres de quatro patas? Estes são
figurinhas repetidas por aqui e desfilam soberanos o tempo inteiro. Outro dia,
um gambá me acompanhou rua afora até a academia. Isso sem falar dos miquinhos
que quase pulam na cabeça da gente, nestas quentinhas tardes cariocas. Gostoso
também é ver, misturadas ao cenário da cidade, famílias inteiras de capivaras
descansando, analisando a vida. Sorte é que ainda não me deparei com nenhuma
cobra pelo caminho. Só no sentido figurado.
Não que
eu queira camuflar a violência. Para tal proeza precisaria muito mais do que lançar
mão de belas palavras e elogiar a fauna. Mas a vida aqui – em determinados
territórios, é claro – pode, sim, ser digna como em qualquer cidade do interior.
Tão digna como a visita que recebi ontem. Um casal de papagaios pousou na minha
varanda e passamos horas conversando sobre tudo. Um verdadeiro banquete para os
ouvidos. Trocamos receitas, segredos, juras de amor e amizade, comemoramos a
primavera. Depois, os dois voaram livres e juntinhos. Só espero que voltem
logo. Da próxima vez, quero servir um cafezinho.
Cíntia Nascimento